Sobre a escrita e o estilo - Schopenhauer (Parte II)

O tédio objetivo tem origem sempre na falta que está em questão aqui, portanto no fato de que o autor não possui nenhum pensamento ou conhecimento perfeitamente claros para comunicar. Pois quem os possui trabalha tendo em vista seu objetivo, ou seja, a comunicação do pensamento seguindo uma linha reta e fornecendo conceitos claramente expressos, por isso não é prolixo, nem vazio, nem confuso e, consequentemente, não é entediante. (...) Em compensação, pelos mesmos motivos, um texto objetivamente entediante é sempre destituído de valor. (...) O tédio subjetivo, por sua vez, é algo apenas relativo: ele se baseia na falta de interesse pelo assunto, da parte do leitor, o que indica uma certa limitação.

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Palavras ordinárias são usadas para dizer coisas extraordinárias; mas eles [alguns escritores alemães da época] fazem o contrário.

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A pobreza de espírito gosta de usar tal roupagem [style empesé associado ao preciosismo], da mesma maneira que, na vida, a burrice se disfarça com a solenidade e a formalidade.

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Querer escrever como se fala é tão condenável quanto o contrário, ou seja, querer falar como se escreve, o que resulta num modo de falar pedante e ao mesmo tempo difícil de entender.

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A obscuridade e a falta de clareza da expressão são sempre um péssimo sinal. Pois em noventa e nove por cento dos casos elas se baseiam na falta de clareza do pensamento, que por sua vez resulta quase sempre de um equívoco, uma inconsistência e incorreção mais originais.

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O que uma pessoa é capaz de pensar sempre se deixa expressar em palavras claras e compreensíveis, sem ambiguidade. Aqueles que elaboram discursos difíceis, obscuros, dubitativos e ambíguos com certeza não sabem direito o que querem dizer, mas têm uma consciência nebulosa do assunto e lutam para chegar a formular um pensamento.

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Assim como todo excesso numa atividade costuma levar ao contrário do que se pretendia, as palavras servem de fato para tornar os pensamentos compreensíveis, mas só até certo ponto. (...) Encontrar tal ponto é uma tarefa de estilo e uma questão da capacidade de julgar, pois toda palavra supérflua age diretamente contra o seu objetivo.

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É sempre melhor deixar de lado algo bom do que incluir algo insignificante.

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Usar muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da mediocridade; em contrapartida, o sinal de uma cabeça eminente é resumir muitos pensamentos em poucas palavras.

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A verdade fica mais bonita nua, e a impressão que ela causa é mais profunda quanto mais simples for sua expressão.

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A lei da simplicidade e da ingenuidade, já que essas qualidades combinam com o que há de mais sublime, vale para todas as belas-artes.

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Mesmo a boa mente não deve ser ingênua, já que pareceria seca e magra. Por isso a ingenuidade se mantém como a indumentária de honra do gênio, assim como a nudez é da beleza.

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A autêntica concisão da expressão consiste em dizer apenas, em todos os casos, o que é digno de ser dito, com a justa distinção entre o que é necessário e o que é supérfluo, evitanto todas as explicações prolixas sobre coisas que qualquer um pode pensar por si mesmo.

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Enfraquecer a expressão de um pensamento, obscurecer o sentido de uma frase para usar algumas palavras a menos é uma lamentável insensatez.

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(...) o estilo não deve ser subjetivo, mas objetvo; e para tanto é necessário dispor as palavras de maneira que elas forcem o leitor, de imediato, a pensar exatamente o mesmo que o autor pensou.

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(...) o caminho da cabeça para o papel é muito mais fácil do que o caminho do papel para a cabeça, então é preciso ajudá-los no segundo percurso com todos os meios à nossa disposição.

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O princípio condutor da estilística deveria ser o fato de que uma pessoa só pode pensar com clareza um pensamento de cada vez; assim, não pode exigir que pense dois, ou mesmo mais, de uma vez só.

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Recortes do livro A arte de escrever, de Arthur Schopenhauer

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